Mestre Luiz Renato via Guest Post
Quando me perguntam, ou quando eu mesmo me coloco a questão sobre como entendo meu trabalho como sociólogo e como capoeirista, MEDIAÇÃO é a primeira palavra que me vem à mente.
Embora a nossa capoeira seja, cada vez mais, estudada, pesquisada e debatida em círculos acadêmicos, vejo-me em uma condição que, ao mesmo tempo, me inspira e me impõe um sentimento de responsabilidade com o qual tenho lidado intensamente nos últimos anos.
O fato de ter construído uma carreira como professor de sociologia e pesquisador no campo da cultura, paralelamente à minha formação e prática como capoeirista e atuação ininterrupta de docente de capoeira desde 1982, foi determinante em relação ao olhar que desenvolvi sobre a arte-luta que tanto amo.
Hoje, entendo que, mais do que a compreensão da história a partir da leitura da bibliografia e das diversas pesquisas sobre documentação e na coleta de depoimentos orais, minha abordagem da capoeira é a da construção de mediações entre os campos da prática, da docência dessa arte e da pesquisa em ciências sociais.
Isso não é melhor nem pior do que nenhuma outra experiência de conhecimento sobre a nossa capoeiragem. É apenas a forma como eu, em minhas experiências pessoais, aprendi a lidar com essa arte-luta.
Um dos participantes da edição do curso que está em andamento me perguntou: “Mestre, quando você aborda os temas do curso, colocando sua experiência como estudioso e capoeirista, quem está falando, o mestre de capoeira ou o doutor em sociologia?”. A resposta é: não sei.
São dimensões de minha atividade corporal e intelectual que, com o tempo, se fundiram. Tornaram-se uma coisa só.
Só o que eu sei, e que cada vez se torna mais claro para mim, é que quanto mais estudo a capoeira, mais reconheço a imensidão dos seus mistérios como prática e como tema de investigação.
E, sentindo-me pequeno e limitado diante desse universo, vou aprendendo a lidar com os desafios da vida.
Luiz Renato
Fev. 2021