Reflexões de um capoeira rumo aos sessenta anos de idade
Luiz Renato Vieira via Guest Post
Doutor em Sociologia e Mestre de Capoeira do Grupo Beribazu
A capoeira nos proporciona inúmeras descobertas. Mas, também, alguns desafios. Com as redes sociais, aumentou o glamour e, para alguns(mas), a necessidade de reconhecimento dos nossos pares. Entretanto, como tudo na vida, isso passa. Podemos prolongar bastante, com esforço e dedicação, mas uma hora passa. Definitivamente.
Em um determinado momento, vamos nos dar conta de que a idade já não permite tantos eventos, tantas viagens. As limitações da saúde e a perda progressiva da energia são naturais ao envelhecimento. A estruturação da família e a chegada dos filhos (para quem deseja tê-los) são grandes desafios para o/a capoeirista.
Foco no treino é importante para a capoeira, mas planejar o futuro é essencial para a vida.
Para aqueles que possuem outra profissão para assegurar o futuro, pode ser mais simples. Mas é ético e correto disseminar a ideia de que a capoeira, por si só, sem qualquer planejamento, garantirá a todos e todas o conforto na velhice?
Com a chegada em massa da mulher na capoeira, essa reflexão se torna ainda mais oportuna. Todas as estatísticas demonstram que a idade atinge de forma diferenciada homens e mulheres no mercado de trabalho. Na capoeira, as desigualdades de gênero não são menores, muito pelo contrário. As mulheres, a partir dos 40, têm menos oportunidades que os homens na mesma faixa etária, e com renda menor. Em breve, teremos um grande contingente de professoras e Mestras precisando lidar com essa realidade.
Você planeja sua carreira para os momentos de dificuldade e para a realidade que vai enfrentar daqui a cinco, dez ou vinte anos?
Você tem pensado em alternativas para que a capoeira continue sempre presente na sua vida, e para que você consiga envelhecer com dignidade, com suas necessidades básicas devidamente atendidas?
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
De fato, a situação do homem e a da mulher na capoeira são bem diferentes. Se para o homem, a idade é ainda sinônimo de prestígio, nem que seja simbolicamente, para a mulher envelhecer significa em geral perder valor (o valor da mulher está vinculado a seu papel de objeto sexual). Assim, penso eu, o que já é problema para eles torna-se ainda mais preocupante para elas. Se preparar é importante, a dúvida, porém é preciso lutar para que essa desigualdade não afete ainda mais as mulheres capoeiristas já vc penalizadas, quando jovens, pelo cuidado aos filhos.