Mas um Mestre se vai. Um Mestre de Capoeira que eu pude conviver e aprender muito. Talvez a maior parte do meu currículo seja de certificados da Associação de Capoeira Barravento, de Niterói, cidade onde nasci.
Hoje Evaldo Bogado de Almeida, Mestre Bogado, nascido no dia 20 de fevereiro foi jogar sua Capoeira (sim, com letra maiúscula) com Deus (na concepção que cada um tem dele) lá no céu.

Tive a oportunidade de conviver como aluno e como Mestre de Capoeira com esta pessoa que aprendi a respeitar. Tivemos várias divergências de ideologias, mas nada tira o muito que aprendi no meu período vivendo e convivendo com a Capoeira Esportiva que ele tanto defendia.
Com ele aprendi as estratégias de disputar campeonatos, a arbitrar na capoeira. Na academia dele na Presidente Backer, na Miguel de Frias, enfim, em todos os lugares por onde a Barravento passou eu estava lá. Batizados, Festivais, Campeonatos, Congressos. Fundamos Ligas, Federações e a Confederação Brasileira de Capoeira.

Através do Mestre Bogado conheci grandes Mestres de Capoeira. Paulo Gomes (e a ABRACAP) e Eziquiel (BA) e tantos outros. Através dele conheci o Nóbrega Fontes, que naquela época perguntava: Por onde Caminha a Capoeira?
Convivi com muitos dos antigos alunos da Barravento e do Bogado: Os hoje Mestres Batata; Alípio; Zudo; Aldo. Conheci Castor, Cinderela, Babão, Wood, foram tantos que agora me falham o nome.
Viajamos pra diversos estados discutindo Capoeira e , Capoeira e Profissionalização. Mestre Bogado era um Mestre ligado a regulamentos. Morreu defendendo o que sempre acreditou. Sempre brigou pela regulamentação da capoeira. Foi um dos primeiros da capoeira a brigar contra o sistema Confef/Cref’s. Sua Associação ganhou muitos campeonatos de Capoeira.

Em 1986 em Friburgo disputamos o Berimbau de Prata quando na ocasião a Kikongo saiu vencedora e depois da Associação Grupo de Capoeira Martins recorrer do resultado ficamos com o segundo lugar.
Viajamo juntos para Juiz de Fora em 1987 pra academia de Cleide Ligeiro e chegando lá encontramos mais de 200 alunos pra pegar a graduação verde.
Em 1989 fundamos a Liga Niteroiense de Capoeira, tendo Walzer Poubel como primeiro presidente. No início dos anos 90 fundamos a Confederação Brasileira de Capoeira e em 1995 fundamos a Federação de Capoeira Desportiva do Estado do Rio de Janeiro. Foram muitas conquistas, muitas lutas.
Quando mudei de rumo na Capoeira, em direção a defendê-la enquanto Patrimônio Cultural, nossa relação ficou um tanto quanto estremecida. Mas o meu respeito por ele nunca deixou de existir.

Tenho em minha casa fotos, certificados e todas as apostilas da Associação de Capoeira Barravento, uma das mais completas da capoeira que já vi. O livro Capoeira Angola, de Valdeloir Rego, primeira edição, adquiri com ele. Livros do Inezzil Pena Marinho, Lamartine, Zuma, dentre tantos outros tive acesso por causa do meu convívio com o Mestre Bogado.
Convívio dentro e fora das rodas de capoeira. As vezes ficávamos eu, ele, Tia Ana e seus alunos até tarde dialogando, bebendo uma cerveja gelada. Era uma época muito boa.
Neste momento a Capoeira perde uma das maiores referências (talvez no mundo) sobre a Capoeira Esportiva.
Daqui lamento profundamente esta perda. Que Deus possa recebê-lo de braços abertos e que ele conforte o coração de todos e todas aqueles e aquelas que o amam.
Iê Viva Meu Mestre, Iê viva Meu Mestre Camará!
Com meus respeitos.
Brasil, RJ, 01 de Agosto de 2018.
Mestre Paulão Kikongo
Querido Mestre Paulão da Kikongo,
Sou Mestre Geraldinho, formado da Barravento e de Mestre Bogado. Mestre Bogado, em nossas conversas sobre Capoeira, quando ele nos visitou no Canadá (foram três vezes), sempre o mencionava em nossas conversas. Me lembro de estar contigo em um batizado da Barravento, quando Mestre Naval, Sabonete e Babão receberam a graduação azul e no campeonato em 87 (creio) no Ginásio do Olaria, na Penha.
Um forte abraço e tudo de bom ao senhor e seu grupo Kikongo!
Mestre Geraldinho