Por Paulo Henrique Menezes da Silva
Mestre Paulão Kikongo
No dia 20 de maio de 2017, como parte das ações de reflexões sobre o Dia de Luta Contra o Racismo (13 de maio), participamos, a convite do Núcleo de Estudo e Pesquisa Etnicorracial Afrobrasileiro da Faculdade Gama e Souza – NEPEAB-FGS, da mesa de debates intitulada: Educação Escolar e Educação não Formal: Práticas Culturais Afrobrasileiras, como parte da programação do I Seminário de Estudos e Pesquisa Etnicorracial Afrobrasileiro. O Seminário, que contou com o apoio da Escola de Gestão Socioeducativa Paulo Freire e do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros do Departamento Geral de Ações Socioeducativas, aconteceu na unidade Olaria da Faculdade.
Nossa palestra foi sobre o tema Cultura e Arte – Uma Alternativa ao Extermínio da Juventude Negra e o Fortalecimento de sua Identidade, por acreditar que as ações de cultura e arte nas comunidades que tenham como foco a afirmação e o resgate dos laços históricos de crianças e adolescentes com as suas origens as leve a pensar em um novo horizonte para as suas vidas. Não podemos tratar quem vive nas comunidades apenas com os aparatos de segurança. Há direitos que precisam ser preservados e a atuação do poder público precisa apontar para esta direção. Tomamos como viés para a nossa palestra os direitos culturais previstos na Constituição Federal, no Estatuto da Igualdade Racial e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Não podemos continuar achando que seja normal o assassinato de nossa juventude negra. Não podemos achar que seja normal a nossa juventude ser morta na porta da escola ou mesmo dentro dela. Entendemos que hoje há uma imensa inversão de valores e que toda a sociedade precisa se envolver em ações que una as comunidades e o asfalto. Precisamos acabar com os discursos rancorosos, como se vivêssemos em mundos diferentes. Hoje morrem pessoas inocentes de todos os lados. E isso quem perde é toda a sociedade. Precisamos de melhorias na educação, precisamos de ações de cultura, esporte e lazer nas comunidades, precisamos de qualificação de nossa juventude para o mercado de trabalho. Todos e todas nós precisamos fazer a nossa parte. Acreditamos que a capoeira, o hip hop, o funk, o samba, para citar apenas alguns, com ações direcionadas nessas comunidades podem influenciar positivamente junto à juventude local, tendo em vista estas ações serem de fácil aceitação por parte deles.
Em artigo no Jornal do Brasil (10/05), Monica Francisco, da Rede de Instituições do Borel disse que “impedir a arte e a cultura nas favelas é tão violento quanto os projéteis”. Segundo ela, “quando a única garantia de presença institucional nas comunidades e favelas do rio de Janeiro passa a ser atrelada à presença armada, ostensiva e produtora de iniquidades, é um triste sinal de que as políticas públicas estão extremamente equivocadas”. Ela disse, ainda, que “a ausência da arte, da literatura, das diversas culturas e da possibilidade da intensificação dos processos criativos e do direito à ludicidade é inaceitável”.
Portanto, o que queremos é menos violência e mais cultura e arte nas comunidades, pois, como diz a Constituição Federal em seu artigo 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Portanto, que cada um de nós faça a sua parte.
Foto do slide: arte em arame feita por adolescente em cumprimento de medida socioeducativa.
Todas as fotos são do acervo pessoal de Mestre Paulão Kikongo.