A baianidade e força de Tia Ciata são contempladas pelo cinema

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A baiana mais conhecida na história do samba foi mesmo Tia Ciata, ou Hilária Batista de Almeida, nascida em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. É exatamente assim que o historiador André Diniz apresenta a baiana, na obra de referência “Almanaque do Samba”. No Rio de Janeiro, a casa de Ciata era frequentada por negros, mestiços e brancos, pobres e ricos. Além de comandar uma pequena equipe de baianas que vendia quitutes e confeccionar trajes de baianas, ela se tornou famosa por organizar lendárias festas, criando o cenário para o fomento do samba. Segundo Diniz, “o samba urbano cresce no asfalto carioca com os genes da baianidade”.
 
Para iluminar ainda mais essa história, as cineastas Mariana Campos e Raquel Beatriz decidiram realizar o filme “Tia Ciata”. Na obra, pretendem abordar a importância dessa figura matriarcal para o período. “A ideia é aprofundar a história dessa mulher, trazendo outra ótica, não só a que todo mundo conhece. Entrevistamos mulheres negras, sociólogas, historiadoras… e convidamos o coletivo Mulheres de Pedra para fazer a parte experimental do filme. É uma homenagem a todas as mulheres negras, tendo Tia Ciata como foco principal. Todos temos um pouco de Tia Ciata, ela teve força e se recriou”, afirma Mariana.
 
O projeto foi um dos contemplados no Edital Curta Afirmativo 2014, da Secretaria do Audiovisual (SAv) do Ministério da Cultura, e encontra-se em produção. O filme deve ficar em pronto em dezembro desse ano e, inicialmente, será exibido em festivais.

Quitutes com a presidência

tia-ciata-1Gracy Mary Moreira, bisneta de Tia Ciata, conta que seu pai, o músico Bucy Moreira, ficava embaixo da mesa da casa da avó, vendo as festas aconteceram. “Ele nos contou que Tia Ciata era uma pessoa muito amável e também muito rígida. A casa dela era um local multicultural e se tornou a capital da Pequena África, no Rio de Janeiro. Ela tinha liderança e iniciou a tradição das baianas quituteiras, junto com outras tias. Tia Ciata foi a primeira a vender doces e salgados em tabuleiros, entre as ruas Sete de Setembro e Uruguaiana”, revela a bisneta.
É Gracy também quem traz à tona a história da amizade entre Tia Ciata e o presidente Venceslau Brás. A mãe de santo foi chamada ao Palácio do Catete para cuidar de uma ferida que o presidente tinha na perna, resistente aos tratamentos indicados pelos médicos. Curado, Venceslau Brás transferiu João Batista da Silva, marido de Tia Ciata, que era funcionário público, da Imprensa Nacional para a Chefia de Gabinete do chefe de polícia. E, mais do que isso, autorizou as festas na casa de Tia Ciata, enviando até dois soldados para fazer a segurança.
“Tia Ciata curou Venceslau Brás e a casa dela deixou de ser marginalizada. Lá, as pessoas podiam cantar e professar sua fé, sem problemas”, conta Gracy, que é presidente da Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata (ORCT), fundada em 2007 por descendentes de Tia Ciata com o intuito de preservar sua memória.
Fonte: MINC
Foto: Nascida Hilária Batista de Almeida, em 1854, Tia Ciata arregimentava eventos que mesclavam cultura, dança e religiosidade (Foto: Divulgação do Acervo da Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata – ORCT)

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