Como falar de capoeira nos lembra poesia, vale lembrar também o nascimento, no dia 24/11, em Santa Catarina, de Cruz e Souza, poeta simbolista brasileiro nascido em 1861. Mas, como nem tudo são flores, exatamente no dia 19 de novembro que foi publicado despacho de Rui Barbosa ordenando a queima de livros e documentos referentes à escravidão negra no Brasil. Este ato com certeza nos privou de conhecermos um pouco mais sobre nossas origens e sobre a nossa história, feita através de muito sangue, suor e lágrimas de nossos ancestrais, mais e principalmente de muita resistência, resistência está que pudemos hoje presenciar com a participação de centenas de negros e negras na luta contra o racismo e toda a forma de discriminação correlata.
E foi exatamente num mês histórico como este, embaixo de um calor de mais de 40 graus que diversos Mestres, contramestres, professores e alunos do Estado do Rio de Janeiro presenciaram, perplexos e felizes, ao som de berimbaus, pandeiros, atabaques e muita cantoria o TOMBAMENTO DA CAPOEIRA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. A luta para que a capoeira fosse tombada como Patrimônio Cultural deu-se início em abril de 2009, quando a Liga de Capoeira do Estado do Rio de Janeiro – LICAERJ, presidida por mim, solicitou através de oficio, ao deputado estadual Gilberto Palmares, do PT, que fizesse um Projeto de Lei que tombasse a Capoeira como Patrimônio Cultural do Estado. Tendo sido aceito pelo nobre deputado, a Liga de Capoeira convidou diversas outras instituições para vir somar no projeto, já que, dada a relevância do assunto, toda a diversidade da capoeira no Estado do Rio de Janeiro deveria ser contemplada. Foi assim que outras instituições e Mestres de Capoeira foram somando a nossa luta. Veio a Federação de Capoeira Desportiva do Estado do Rio de Janeiro – FCDRJ; a Liga Niteroiense de Capoeira – LINC a Super Liga Brasileira de Capoeira; O grupo Muzenza de Capoeira; a Associação Cultural Rio Brasil Arte Capoeira; o Grupo Quilombo Arerê – Capoeira Raiz (Angola); a Escola de Capoeiragem Senzala e mais recentemente a Liga de Capoeira do Rio de Janeiro – Licarj. A idéia para o tombamento da Capoeira em nosso estado deu-se pela necessidade de termos um instrumento legal que “obrigasse” o governo do Estado do Rio de Janeiro a pensar em uma forma oficial de se preservar esta que é uma das maiores expressões de resistência negra em nosso país e que hoje se encontra presente em mais de 150 países.
Os Mestres, as Associações e Grupos de Capoeira do Estado do Rio de Janeiro perceberam a importância deste momento e estiveram em peso na assinatura da Lei. Dentre os Mestres presentes podemos destacar: Mestres Roque, Touro, Paulão Muzenza, Montana, Ephrain, Vieira, Gegê, Paulinho Meia Lua, Arerê, Grilo, Paulo Rio Brasil, Samuca, Sargento, Teacher, Bujão, Chico City, entre outros. Estiveram presentes, ainda, o presidente da Federação de Capoeira Desportiva do Estado do Rio de Janeiro, Robertinho; o deputado federal Edilson Valentim, autor de diversas leis que beneficiaram a Capoeira; a deputada Estadual Beatriz Santos, presidente da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional e o deputado Gilberto Palmares, autor da lei que “tombou” a Capoeira.
Participaram, ainda, as seguintes entidades/associações/grupos de capoeira: Liga Niteroiense de Capoeira – LINC; Liga Carioca de Capoeira; Liga de Capoeira do Município do Rio de Janeiro – LICARJ; Associação Cultural Rio Brasil Arte Capoeira; Rede Nacional da Capoeira (RJ); Grupo Capoeira Muzenza; Grupo Capoeira Aidê; Grupo Besouro; Associação Cultural de Capoeira Ginga Brasil; Associação de Capoeira Corda Bamba; Grupo de Capoeira Karibê; Associação de Capoeira Mugozap Sinhá; Associação Cruzeiro do Sul Raízes; Escola Municipal de Capoeira Vicente Ferreira Pastinha; Associação de Capoeira Regional Irmãos Unidos do Urucungo; Grupo de Capoeira Carioca; Associação Grupo de Capoeira Arte Nobre; Associação de Capoeira Terra; Kapoarte; Grupo Maragogipe; Associação de Capoeira Meia Lua; Grupo de Capoeira Filhos de Angola; Grupo de Capoeira Terra Boi; Grupo de Capoeira Liberdade; Instituto Gingas de Cultura Afro-Brasileira, Associação de Capoeira Casa do Engenho; Grupo Amigos da Capoeira; Associação Grupo Capoeira Martins; Ginga Nativa; UBC – Capoeira; Capoeira Veloz; Grito de Liberdade Sancipriano, entre outros.
Dentre as autoridades presentes, além das já citadas, podemos destacar; Benedita da Silva, ex-senadora da república, ex-governadora e atual Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos; Zezé Motta, superintendente de Estado da Igualdade Racial – CEPIR/RJ; Jurema Batista, presidente do Conselho de Segurança Alimentar do Município do Rio de Janeiro; Paulo Roberto dos Santos, presidente do Conselho Estadual dos Direitos dos Negros – CEDINE/RJ e Jandira Feghali, Secretária de Cultura do Município do Rio de Janeiro.
Em seu discurso após a assinatura do tombamento da Capoeira, o Governador Sérgio Cabral reafirmou seu compromisso com a comunidade negra, falou de sua posição em defesa das cotas raciais e da política de ações afirmativas, e confirmou, mais uma vez, que vivemos, sim, em uma sociedade racista e que isto precisa mudar. E com certeza, segundo ele, está mudança se dará através de leis, de políticas públicas que beneficiem efetivamente a população negra de nosso estado e de nosso país. Falou da importância da capoeira e mandou um recado para que a Secretaria Estadual de Esportes inclua o mais rapidamente possível a prática da Capoeira como uma das atividades do projeto SUDERJ EM FORMA. Como não poderia deixar de ser, a Capoeira comemorou com uma grande roda de Capoeira, onde até o governador jogou.
Fotos: Mestre Paulão Rio Brasil
Este artigo pertence ao Berimblog | Blog oficial de Mestre Paulão.
Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.